domingo, 28 de janeiro de 2007

Eu conto…

O.K! Pronto! Um dia eu conto-te! Conto-te de onde venho, as estradas por onde passei… de facto não tem nada de especial. Para ti, para os outros… é uma história… só isso. Mas é uma história vivida por mim. À minha maneira…
Eu conto…. Do porquê de acreditar em Et’s, de me rir de mim, de fazer rir os outros, de me pavonear para passar despercebida!
O.K! Pronto! Um dia eu conto-te. Falo-te da minha alma. Do arco-íris a preto e branco, do pote das moedas de ouro. Dos gnomos… dos pesadelos. Dos medos. Da insegurança. Da melancolia.
O.K! Pronto! Um dia eu conto-te! Falo-te dos meus pensamentos encadeados. Dos pormenores que me magoam, dos pequenos quês que observo sorrindo. De rir por nada. De chorar assim…
O.K! Pronto. Um dia eu conto-te que gosto de acordar e entrelaçar as pernas noutras pernas, e sonhar acordada. Que gosto de adormecer com as pazes feitas.
O.K! Pronto! Um dia eu conto-te como é dilacerante sentir a areia a fugir-me por d'entre os dedos.
O.K! Pronto! Um dia eu conto-te. Das minhas guerras, das minhas derrotas, das minhas vitórias… da minha cobardia… de não contar aos outros, que há dias que me apetece contar… contar… enroscada, aninhada, sem reservas, sem medo de que se riam de mim.
O.K! Pronto! Um dia eu conto-te. E descobrirás, que eu sou como sou. Que gosto de mim assim e que é por isso mesmo que não conto. Porque enroscada, aninhada e sem reservas, quem não sabe ouvir, não vai entender… e as minhas palavras serão vãs, serão mudas e eu serei despida. Numa nudez oca, vazia e só.
O.K! Pronto um dia eu conto-te…

sexta-feira, 26 de janeiro de 2007

+351 45656547 de uma rede qualquer

- Cá para mim não vais nada deixar de fumar!!!! És um aldrabão, andas a pregar o conto do vigário à merda dos teus amantes. Tanto romantismo no abandono do teu cigarrinho! Olha uma coisa, queres saber a pior? Ontem não deu para ir à tasca. Acordei mal disposta. Nem imaginas o k me aconteceu. Não dormi de noite, por causa do vizinho de cima que esteve a pregar pregos na mulher. Parecia o Shrek o arrotar. Pá… que nojo. Meti os phones, para adormecer, mas como tenho as orelhas pequenas, quando acordei parecia que tinha as orelhas alargadas. Nem imaginas, eu estava ainda estremunhada e a única coisa que me passou pela cabeça, foi que tinha sido atacada por ET’s durante a noite e que me tinham feito um Papa Nicolau em cada orelha! Passei-me! Quê? Não oiço nada, tenho o saldo a acabar, manda-me uma mensagem a dizer se a pita do bar é mesmo boa! Beijos, a gente encontra-se no sítio do costume. JÁ TE DISSE QUE NÃO OIÇO NADA! TCHAU!

corpos (layer 3)

tens a pele fria, deixa estar, eu aqueço-te... degolo desvasto esse frio, essa pele de galinha, cada vez mais firme... ouves o ultimo suspiro??? aquele que leva tudo? o peso o ardor o desejo a loucura, podia levar tambem o apendice da nicotina. Toco-te mais uma vez, ainda quente, como quem quer dar a útlima gargalhada, o toureiro a espraiar o lenço vermelhão cereja qual quê, rosa panão é o que é... Fiquei com a gaja do gin na cabeça... devias experimentar, se calhar ias gostar...

o crime do conto

um dente, dois dentes, vou-te contar uma mentira de verdade. Deixei de fumar. Pronto, novidade!!! Vi à pouco na televisão, daquelas que dão antes das 8 da manhã. Um gajo na américa, fumava 40 cigarros por dia, e teve um AVC... nunca mais fumou na vida. Também vou fazer isso, desligar o apendice do cérebro que nos cola na nicotina, tá resolvido.

Hoje, vou comer a gaja do gin importado. Levo-a po mercado negro e deixo-a em Maputo. Quero lá saber, se calhar até vais gostar de assistir, de nos assistir... é assim que vens quem me vens que te vens? Vou leva-la pelo meio do fumo, rodopiar entre os tampos das mesas sebosas, do vinho, das mãos, do fumo. Um canto ali dá... um dente, dois dentes... mordo-a toda, como-a aos pedaços, tal como te comia a ti... gostas? Deixei de fumar, vou encomendar um AVC. Ontem a gaja do gin importado... nada, era eu a imaginar... já ando a fantasiar com aquela besta quadrada que dança entre os tampos redondos... "esse desejo, cor fogo esgotado, da tela das cores, das palavras achado, meu regaço, mancha de fogo alado..." ora ai está uma bela poesia de casa de banho... vens comer-me hoje?

domingo, 21 de janeiro de 2007

BUS


Não vieste… meti-me no autocarro para casa. Está escuro e as gotas de chuva escorrem pelo vidro. Estarás bem? Estarás zangada? Bem sei que és frágil, que te escondes de tantas verdade que ao longo dos anos te tenho contado. Esperei por ti. Aturei a ordinária que se pavoneava, rodopiando a bandeja com três dedos intervalados.
Por onde andas, miúda? Arranjaste mais um dos teus casos infrutíferos? Estou farto de te avisar… o amor anda de mãos dadas com o desamor. O amor grande parte da nossa vida, não chega. Chega a paixão, que te faz suar, deixar de comer e ter insónias; chega o sexo, que te vicia; chega a camaradagem que te aconchega… mas o amor, menina…
E essa grande parte da vida, passa-la entre autocarros cheios de gente que te olha, que se senta a tua beira, que te ignora… que cheira a lavanda ou a canela… que fede… mas não sabe o que te passa pela cabeça… não vê da mesma forma, a forma das gotas da chuva.
Amanhã, lá estarei à tua espera. À mesma hora. Na tasca do costume.

sábado, 20 de janeiro de 2007

Estou há exactamente quarenta e cinco minutos à tua espera. Terás aberto o envelope, que singelamente deixei, na mesinha do telefone?
A miúda, já me serviu a segunda dose de uma zurrapa qualquer que a mesma intitula de “o melhor gin importado, do mercado”. Só se for o do mercado negro, de Maputo!!! A gaja está-me a irritar e tu nunca mais chegas! Pavoneia-se, de um lado para o outro, por entre a fumaça e os delírios dos clientes, segurando meticulosamente a bandeja, em três dedos intervalados. Quando me atende, olha – me inexpressiva. Pareço a merda de um escaravelho, num canto da sala! Puta de gaja… até parece que cometi algum crime! Mas que crime?
Se calhar, o crime foi contar-te mais um dos meus segredos. Se calhar, neste momento, deves estar estendida no chão do corredor, agarrada aos teus seios imponentes, a sufocar de tanto te rires à minha custa! Devassa! Se gostasse de mulheres, no momento em que entrasses pela porta da tasca (o que já tarda, diga-se de passagem), enfiava-te a mão pelos cabelos que te cobrem o pescoço e fingiria beijar-te! Mas só sugeriria!
Sou mesmo um raio de um anormal! Assumo aquilo que nunca tive a certeza de o ser, e construo cenários ousados, com uma personagem que nunca pensei, sequer, desejar…
Enquanto não vens, imagino-te a gozar comigo, repetindo vezes sem conta aquela frase aquando da apresentação de filmes do cinema, também eles importados e que levam eternidades a chegar: Coming soon… Coming soon…
Daqui a nada, se não chegas, passo-me ao fresco. Estou a queimar cigarros uns atrás dos outros e tenho que poupar este maço. Afinal de contas só deixo de fumar amanhã! Novamente…

sexta-feira, 19 de janeiro de 2007

breath in, breath out

"PUTA DE UM CHAVO... é o que te dou!!! Que raio de quotidiano que tenho, e vem-me este gajo entalar-me num divã de cabaret que tem mais bichos nas pernas que histórias nos cornos... não sei o que pensava quando passei aquela porta tanta vez... não sei o que me deu para lá voltar... não sei o que me deu aos 5 anos... e aos 12... e aos 15, 16, 17... que raio de anormal que sou... merda de gajo que levo esta vida de kafka num filme que ainda ninguém assinou... amanhã paro de fumar..."

I - " A Carta"



Algures, 18 de Janeiro de 07
Olá…

Um dia destes, por entre copos e gargalhadas, ficou a promessa de um texto meu. Meu nas palavras, e meu nas vivências. Não falto ao prometido, já me conheces, portanto deixo-te aqui as minhas recordações, do dia em que tomei pela primeira vez, um rumo:
Era a milésima vez que me sentava na cadeira, verde-garrafa, do psiquiatra… Merda de cadeira… Suja! viciada de rabos loucos… adiante! Ferviam-me as veias! Estava com disposição de assumir a minha loucura, sendo esta já de conhecimento e consentimento público!

O dito cujo, como de costume, violou novamente as regras de cidadania, para não falar que se tratava de um “psiquiatra conceituado” e acendeu o velho cachimbo preto. Um cheiro adocicado inundou o cubículo e ele sugeriu que me acomodasse o melhor possível na merda da cadeira verde-garrafa. Sempre desconfiei que ele fumava pólen, pois ria-se de mim a bom rir.

Nesse dia, porém, deixei-me de discursos previamente planeados, respostas antecipadamente estudadas, e gestos premeditados. Sugeri àquela velha chaminé que usasse o tal método inovador da hipnose. Irónico, chupou com força o cachimbo e de um trago começou... “concentre-se na minha voz… vai-se sentir cada vez mais leve… mais leve…” e por aí em diante.

A verdade é que o tipo me ofereceu uma viagem grátis, pela minha vida fora, em menos de cinco minutos. Quando acordei, a minha loucura continuava a mesma, mas sabia quando tinha descoberto tal demência. Tinha cinco anos, estava no meio de um acidente aparatoso, em que a minha carrinha da escola, estava envolvida… enquanto a equipa médica se desdobrava em cuidados com as crianças, eu deliciava-me com a pessoa que me assistia! Quando virou costas, a tal pessoa disse à minha professora: “Mais uma criatura homossexual, para este mundo já repleto!”

Então se o mundo era repleto de bichas e machonas, porque não podia eu sê-lo também?
Levantei o traseiro da merda da cadeira verde-garrafa, desejei felicidades ao velho e pus-me a andar!

Quando cheguei à rua, como de costume, acendi o meu charro, e segui na direcção habitual, mas com a ideia de um novo rumo!

Hoje, falo-te com a mesma leveza de sempre, com a mesma fé e com a mesma certeza! Não mudo de convicções, mas vou mudar a minha vida, o meu rumo e sei que tu, mesmo que discutas e me batas, como já o fizeste algumas vezes, vais continuar a aturar-me!


Agradeço-te a paciência.
Já sabes, logo, na tasca do costume!

Ass. EU”